segunda-feira, 30 de julho de 2012

INCANTAMENTO




Tudo no cê me incanta
Mais do que eu mais sei gostá
É do seu riso maroto
É do seu jeitu de oiá.

Nesse oiá de tanta luiz
Que a vida póde guardá
Guardô o mundo interinho
Só num pôdi me guardá.

Nesse riso que alumeia
O seu retratu bunito
Vejo nele o ispeio
Dos ano ali refretido.

Um dia eu quis sê o brio
Do verdi desse oiá
Quis sê do riso o mutivo
De nos seus lábio brotá.

O tempo passô ligero
As isperança levô
Os vento da vida veio
Os sonho pra longe assoprô.

Num fui o brio, num fui o riso
Num fui eu sei nada não
Mais eu fui ocê tenha certeza
Quem lhe deu o coração!!!
Alcione Oliveira.

BIBRIA DE UM AMOR







Ocê me pidiu pra iscrevê
Um livrin finin  procê lê.
Já tô aqui percurano
Parece que tô iscutano
Arguém de longi assoprano
Um nome pro livrin tê.
Num tô intendeno não
Careci  dicifração
Careci mió iscutá...
Ah.... acho que agora intindí
O nomi que é preu dá
BIBRIA DE UM AMÔ
É ansim que vai chamá!
Num sei quem foi que assoprô
Só sei que adivinhô
O tamanho desse amô...
Ele é ansim tão antigo
Tão forti e tão amigo
Que a história vai guardá.
Do contrário das iscritura
Ele vai tê as finura
Por pôcas fôia havê.
Tamém o tamanho das letra
Piquena num vai podê sê!
Num inxergá é seu defeitu
Eu vô percurá dá um jeitu
De podê te ajudá
Fazê as letra bem grandi
Procê podê dicifrá.
Grava elas nu pensamentu
Pra nunca se apagá 
Memu que os óio num veja
Coração há de inxergá!...

Alcione Oliveira.

Bem querença!





Tenho pamodi ocê
Uma benquerença tão grandi
Que eu tenho medo inté de falá
E ocê se assustá
E num querê nunca mais me oiá!
Diz o povo que quando a gente gosta
Mai gosta de verdade, é memo ansim
A genti tem medo de falá
Tem medo inté de pensá
E se vive de sonhá!
Eu vô memo se arriscá
E o meu sonho eu vô contá.
Adispois num se importo
Se ocê de mim se afastá
E num quisé mais me oiá
Purque o meu sonho
Junto com ocê, ocê vai levá!
Meu sonho é uma casinha
Humirdi e pobrizinha
Só memo quarto e cuzinha
Dois condin pra nóis morá.
Na cuzinha um fugãozin
Um fumero e um banquin
Pra em riba dele ficá.
No fumero ispindurada
As tripa de porco lavada
Isperano pra fritá.
As paia de mio secano
As linguiça defumano
E nóis dois a cunversá.
Na paredi uma foinha
Lá da loja da Lazinha
Nóis vai pô pra infeitá.
Nela marcá todo dia
As hora de aligria
Os meis que vai se achegá.
Na pia a taia cum água
Que perto da mina da istrada
Junto nóis foi lá buscá.
Um copo do lado isperano
A frô disabrochano
Que nóis vai nele ponhá.
O nosso cantinho humirdi
Perfumoso há de ficá!
Adispois nóis leva pra santa
Antis que o sór se arrecoia
E vamo cum ela rezá.
Pidi pra ela um fiinho
Um cabocrin bunitinho
Pra junto de nóis vim ficá!
No quarto uma cama istreita
Um radin na cabicera
Pras moda nóis iscutá.
Quando chegá o mininin
Nóis põe ali um bercin
Um jeitu nóis há de dá!
Adispois dele criscido
Nóis já inveecido
Pra Jesuis nóis treis rezá.
Agardecê a riqueza
Que nóis na nossa pobreza
Cunsiguimo adisfrutá
Um fio bunitin criado
Um amô abençuado
E um cantinho pra morá!.
                                                                                                                Alcione Oliveira.

domingo, 29 de julho de 2012

Lembrança



A carroça do leitero
Tem pra mim o memo chero
Da carroça do papai.
Nóis num tinha impregado
Nóis memo ordenhava o gado
E o leite ia intregá.
Meia Lua era leitera
Sempre ela a primera
Que vinha pra ordenhá.
Eu mostrava uma ispiga
Lá invinha a vaca amiga
Dexá seu leite eu tirá!
Nóis inchia os latão
As garrafa e os garrafão
Prus fregueis ia intregá.
Coquinho puxava a carroça
Levava nóis lá da roça
Inté a venda do Zé.
Meus  irmão brincano na frente
Eis memo intregava os leite
Correno um tanto a pé.
Tudo era diversão
Inté memo os caminhão
Jogano puera na gente!
Nos buraco da istrada
A carroça arrebolava
Ino pra lá e pra cá.
As veiz os leite vazava
Adispois que nóis vortava
Inda tinha que alimpá.
O chero incalacrava
Em cada tauba que oiava
Água tinha que jogá!
Antes de sortá o Coquinho
Ia qüele no açudinho
Pamodi um banho lhe dá!
Ele custumado que tava
Parece inté que isperava
Pra adispois se í pastá!
A gente correno saía
Lá pru Campinho nóis ia
Antão já pudia í brincá!
Crescemo e dexemo a roça
E num há nada que possa
Fazê o tempo vortá.
A carroça ainda inxiste
Se alembrá me dexa eu triste
Pois papai num tá mais lá!.

Alcione Oliveira

sábado, 28 de julho de 2012

Estória de Sinhazinha



No casório de Nhô Zequinha
O carro de boi lá invinha
Trazeno os noivo de pé.
Era promessa de Sinhazinha
Rodá istrada interinha
Cum a imagi de São José.
Devota que era do santo
Feiz seu vistido inguar o manto
Do santo que tinha fé!
Oiava o povo na istrada
Pra todos eis acenava
Lovano São José!
Eu de banda acumpanhano
Os boi que ia andano
Cum passo de num querê í.
Eita que o carro cantava
Eu inté se arripiava
Do canto bunito oví!
Na reta do ispinhero
Já dava pras vista vê
A casa lá da fazenda
Dondi os dois ia vivê.
Chegano na porta da casa
Nhô Zequinha apiô
Pegano a noiva nos braço
Pra dentro de casa levô.
A imagi nas mão da moça
Cum ela tamém entrô
E do lado de sua cama
Foi dondi a imagi ficô.
Artas hora da madrugada
Tempestadi disabô
Um raio bem nessa hora
O casar de noivo acertô.
Os dois corpo que durmia
Do sono num acordô
U nóis bem que se viu
Cumo eis disfigurô.
Tanta coisa adistruída
O ispeio istilhaçô
O santo ficô intero
E a morte os dois levô!
Fazeno o caminho de vorta
Sinhazinha agora morta
No carro que veio, vortô!
O rangê dele se ino
Num era inguar quando vino
Cum Sinhazinha em pé.
Ela agora vai deitada
Pra sua úrtima morada
Cum sua imagi de fé!
Por isso o cantá bunito
Do carro de boi cessô
Cantô um canto isquisito
Prum amô que só cumeçô!.  

Alcione Oliveira.

Carta




Essa sodadi marvada
Sodadi intediada
Que faiz eu ansim recordá
Dum tempo bem lá de longe
Quando eu pudia sonhá!
Sonhá cum teus zóio craro
Que só de banda me oiáro
E me insináro a amá!
Quando te vi matutei
Essa cabocrinha eu sei
Num pódi cumigo ficá
Sua buniteza é defeito
Pra mim num vai tê jeito
Se ôtro marmanjo lhe oiá!
Nos caminho dessa vida
Nessa istrada tão cumprida
Eu si pirdi no sertão.
Si imbrenhei no mato adentro 
Si imbrenhei na solidão.
De cumpania teus zóio
Brilhoso quiném a lua
Alumiaro os meus passo
Nos ano de iscuridão.
Vivi suzinho no mato
Quar manso e carmo regato
Que um dia o curso mudô
E nas ruga do meu rosto
O pranto de tanto disgosto
Suas água iscurregô!
Nunca tive nutícia do cê
Nem memo eu sei dizê
Pamodi foi que eu fugi.
Tarveiz a tua beleza
Foi meu sinar de fraqueza
Foi o cumeço do fim!
Num amei mais niguém nessa vida
Adispois que os teus zóio quirida
De banda oiáro pra mim!.


Alcione Oliveira