terça-feira, 29 de julho de 2014

CARTINHA A NOEL...







Eu pidí pru meu padin
Cunversá co bão vein
Prêli de mim se alembrá
Pensá ni mim só um cadin
Iscuitá meu recadin
Quêle vai ino levá...
Papai Nuel iscuitava
Condu meu papai levava
Os pididin queu fazia
Num me dava o queu quiria
Mais papai nunca vortava
Cás mão abanano vazia.
Fico aqui rezano agora
Pra Nuel e Nossa Sinhora
Realizá o sonho meu
O único presente que eu quero
Dispertá do sono eterno
O meu pai que já morreu!.

Alcione.


quarta-feira, 9 de julho de 2014

RECORDAÇÃO


















Uma baita duma sodadi
Anuviô o meu coração
Quando o tempo sem piedade
Disgarrô das minha mão.

Marvada, marvada sodadi
Tem cremença, um cadin de dó
De arguém que amô de verdadi
E hoje é lembrança só!

Na paredi discascada
Tá o véio chapéu discansano
Das andança por tantas istrada
Guardano a puera dos ano.

O porta- retratu tombado
Carcumidu de cupim
Tem a foto do passado
Que insiste oiá pra mim...

O relójo de borso,  "dorado"
Ingastaiado numa corrente
Tem nele o nome gravado
Que eu tenho gravado na mente.

Os longui prei e a vitrola
Que tocô tanta canção
Calado, durmino agora
Na caxa preta no chão.

Os livro antigo impiado
Na partilera tão fria
Me faiz sonhá acordado
Na sala hoje vazia.

Duma vida as recordação
Em quato paredi trancada
O que foi um dia emoção
Hoje é sodadi... mais nada!

Alcione.

sábado, 14 de junho de 2014

MINHA RIQUEZA



                                                FOTO DA NET.

Eu tenho o meu ranchinho
Os minino e a viola
Eu tenho as quatro lua
E a muié que me adora.

Eu tenho um fugão de lenha
E uma cama pa deitá
Um cubertô vermeio
E muito sonhu pa sonhá.

Eu tenho o meu banquinho
O meu pitu e o meu chapéu
Uma gamela véia
E um Jesuis no artu céu.

Tenho o dia... tenho a noiti
Ar puru pa rispirá
A canoa já furada
Um  açude preu pescá.

Eu tenho a passarada
O chão dondi prantá
Num priciso de mais nada
Deus muito já me dá!

Alcione Oliveira.

sábado, 31 de maio de 2014

PROFECIA

                                 FOTO DA NET.

                         
E A MININA NUS BRAÇU ELE PEGÔ
E FALÔ DIVAGÁ SEM VACILÁ:
ELA VAI SÊ MINHA MUIÉ
PASSE OS ANO QUE PASSÁ...

Na frô da sua idade
Meu amigo se casô
E pra sua felicidade
De treis  fia pai tornô.
A impregada Maria
Foi quem delas bem cuidô
Dispois das minina moça
Tamém Maria imprenhô.
Naceu dela uma minina
De pele arva e fina
Oinhu azú cumo o quê!
Eu cunhecedô   da  história
Arregistrei  na  memória
Vô contá ela pro cê.
Meu amigo pegô no colo
A minina que nacia
Falô oianu pra mãe
Vô casá cum tua fia...
Passe os ano que passá
Pur ela eu vô isperá
Vai sê minha ela um dia!
Cum o passá do tempo
Da muié divorciô
Ôtras nova parecêro
Cum elas amaziô.
E ansim ele foi ino
Cuma ô côtra siguino
Cum mais ninguém fixô..
Cumpretava sessenta e cinco
Condo argúem lhe cunvidô
Pra sê o seu padim
Num concurso , que ganhô.
Dispois da noite de festa
Foi cum beju que selô
O início do romance
Que ele profetizô
Dizoito ano passado
Quando no dia marcado
Ela no mundo  chegô!
Alcione.

terça-feira, 27 de maio de 2014

EU QUERO É VORTÁ PRA ROÇA...

                                       
                                                     TELA  DE EDGAR WALTER.

Na roça eu bebo cachaça
O leiti eu tenhu de graça
Parmitu tá no coquero.
Aqui eu num achu graça
O tempu pra mim num passa
 Num incontru bão violero.
Eu queru é vortá pra roça
Eu queru a minha carroça
O meu cavalu em pelo.
Queru o cheru da fumaça
As minha arma de caça
O fugão lá nu terrero.
Queru a butina rasgada
A camisa a traça furada
Meu chapéu de boiadero.
Queru os calo nas minha mão
Aligria nu coração
Tarefa o dia intero.
Queru a inxada e o machado
Prus canteru e os pau cortado
Eu podê diministrá.
Queru o meu cochão de paia
A minha véia navaia
E a mema muié preu amá!  

Alcione.


sábado, 24 de maio de 2014

A VILA DU MEU PASSADU...

                                            foto da net.

Fui antonti lá na vila
Que morei quandu minina
Matá as minha sodadi.
Mas tá tudu tão deferenti
Inté a casa da genti
Mudô de indentidadi...
Num é mais a casa do Zé
Virô hotér du Tomé
Cum picina di verdadi!
O açogui que nóis comprava
Tamém alí já num tava
Ninhum tijolu de pé...
O granfinu que comprô
O açogui adirrubô
E montô um tar "café"!
A vendinha du Divinu
Dondi nóis runia os primu
Pra bebê uns guaraná...
Sumiu cumu a fumaça
É restoranti de praça
Naquele memu lugá!
O marzém da Julieta
Que vindia in cardeneta
Agora é supmercadu dus bão...
Só entra neli genti rica
Pobri de fora é que fica
É nu chequi o nu cartão.
O disinfiliz que comprô
Do jeitu das europia amontô
Vi falá que é alemão!
A igreja num aderrubaro
Dexaru nu memu lugá
Mais mexero... aumentaro
Tem hora inté pra intrá!
Dobrei tininu a isquina
Nu carrerão de minina
Pra vê minha iscola incantada...
Carquei meu oiá foi num prédio
Cunhecí intão o tar "tédio"
Cás pestana alevantada!
O que dimais me apoquenta
Que os meu miolu isquenta
É sabê que eu vortei...
No lugá do meu passado
Vivinhu na menti guardado
E lá num mais me incontrei!
Alcione.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

O VAZIO DA MINHA CASA

A casa era só aligria
Tinha sempre em cima da pia
As panela no iscorredô...
Tinha o cheru das cumida
Cum sabô de risu e vida
Cum temperu só de amô!
Tinha na sala a santinha
Que alumiava a casinha
Na luiz da sua oração...
Na paredi o retratu
Daquela que amei de fatu
Cás força do coração!
No quartu as cama arrumada
As ropa bem ajeitada
Ispindurada nus pregu...
A curtina custurada
Cumu a vida, alinhavada
Nus ano que a Deus eu intregu!
Às seis hora, hora santa
Antis de sirví a janta
Fazia a mema oração...
Agradicia a vida,
A mesa farta, a cumida
A bença da nossa união!
Nu quintar as rosa vermeia
As veiz cheia de abeia
Ou de barbuleta a infeitá...
Ela da janela oiano
De aligria os óio pursano
De tanta beleza inxergá!
Que sodadi eu tenho de tudo
Do meu piquititu mundu
Dondi eu vivia contenti..
Sodadi da muié amada  
Sodadi das nossa risada
Sodadi du amô da genti!
Choru agora as lembrança
Inté de amarrá suas trança
Dispois de um cafuné...
Só recordação hoje ixisti
Deus do céu cumu é tristi
A casa sem a minha muié!