terça-feira, 18 de junho de 2013

ALIGRIA NUM TEM PREÇO



Arriei o meu cavalo
Saí a galupiá
Lá pras banda de Cristália
É adondi eu fui pará.
Sobe morro e faiz curva
Ranca a puera do chão
Sem curva e sem puera
Galupiava meu coração!
Prantada no arto da serra
De chão batido de terra
Casinha branca eu vi.
O dono dela, o João
Cabocro bão do sertão
Alí foi que cunhicí.
Do lado da casa uma hortinha
De verdura bem fresquinha
Que inté serve pra infeitá
Inchê de beleza as vista
De quem se achega pur lá.
João de pele crestada
Bem na porta da intrada
Veio me recebê
Pegô na minha mão e disse
Deus bençõe vancê!
Vi num canto o machado
As madera lá do lado
Trabaiada no facão
Me amostrô o carro de boi
As traia... as vara de ferrão...
Mostrô as cangaia, os canzil
Amostrô tomém os cambão.
O carro bem arrumado
Passô nele óio queimado
Vi os côro turcido cás mão
Mi contô o que ele feiz
Da boiada antiga disfeiz
Purque era misturada
Pra formá uma junta nova
Uma junta apariada
Só de boi vermeio agora
Pra no dia da procissão
Carregá Nossa Sinhora!
Entremo lá na cuzinha
De janela azurzinha
E eu fui logo inxergá
A cabaça infeitada
De cipó ornamentada
Cum água pra se tomá.
O café quenti na mesa
Pra mim ele feiz supresa
Uma moda foi cantá.
Pegô intão a viola
Me amostrô cumo ela chora
E ri, nas suas mão.
Cantô cumo se fosse pru mundo
Cantô cum o coração!
Saí de lá tão filiz
Que inté uma promessa eu fiz
De brevimenti vortá.
Cheguei lá na portera
Ainda virei pra oiá
Ele parado na porta
Cum a mão a me acená
Fica cum Deus, meu amigo
É o que fui lhe falá
Aqui Ele fica, cum vancê Ele vai
Fica junto de nóis tudo
Nosso Deus e nosso Pai!
Vortei inrricado de aligria
Abençuado foi o meu dia
E cuessa história pra contá.
Se ocê num acriditá
Um dia passa pur lá
E o João manda chamá!

FULIA DE REIS



              
                                    
É  do sítio de Sá Maria
Que todo ano a fulia
Sai de lá a cantá...         
Ela sai pelas istrada
E ali na porta da casa
Já cumeça a tocá.
O Bastião vai bem na frenti
Dançano pra toda a gente
Que os Santo Reis vem incontrá.
Ele é o mascarado
Que corre pra todo o lado
E cum todos vai brincá.
Ele leva aligria
Por dondi passa a fulia
Cantano  versos  da  Bíbria
Ricitano puisia
Sem pará de dançá!
A bandera segui irguida
De buniteza é sirvida
Cor e fror a lhe infeitá.
Cada casa do caminho
Recebe cum carinho
Os fulião que ali chegá.
Adispois da permissão dada
Pelos dono daquela casa
A bandera  póde intrá.
Cumeça intão a sanfona
Os tambor e as viola
De arguma forma chorá.
Acumpanha a rebeca,
 e tamém o réco- réco
Pras fala deis musicá.
A dona da casa sigura
A bandera cum ternura
Que pra dento vai levá.
Passa ela em cada canto
Dos cômudo pra abençuá.
Adispois lá vem de vorta
Fica difrenti pra porta
Pru gardecimento iscutá.
A fulia se adispedi
Pra nôtro anu vortá!
Sai o povo pru terrero
Pra sê mais um cumpanhero
Pra fulia acumpanhá.
E ansim de casa em casa
Muito mais gente ajuntá!
É de cedo que cumeça
E quem vai cumprí promessa
Chama o povo pra armuçá.
Adispois a tarde intera
Cuntinua a caminhá.
A hora mais isperada
De que gosta a mininada
É a hora de chegá!
A úrtima casa  recebe
A bandera pra ficá.
É ali que os Santo intão
Passa a noite a discansá.
Quando  a fulia aponta
Aquela gente já pronta
Fugueti cumeça a sortá.
É tanta luis lá no céu
Que as núve inté puxa os véu
E os anjo ajuda a cantá!
Um terço intão é rezado
Os Santo na hora é sardado
Cum VIVA e devoção.
Cá reza incerra a fulia
Que acabô  a canturia
Cumprino a sua missão!
Antão a hora é de festa
E pro povo o que resta
É cumê muito e dançá...
O festero, na parada
Grita VIVA pra moçada
Santo Reis veio  pra  ficá!
E cum muita aligria
Rastapé vai cumeçá.
Adispois só no ôtro ano
Pra Bandera aqui vortá!




O PRANTU DU CÉU



                                                                           
A seca tava das braba
Pricisava   aguá as frô
A terra água improrava
Pro nosso Pai Criadô.
Os riberão viraro córgo
As represa, uns riuzin
Dava dó oiá as pranta
Os pasto  tava  sequin.
As coitadinha das vaca,
Dos boi e dos bizerrin
Passava as língua no chão
Sem rapá ninhum matin
O sór isturricava a terra
A quentura machucava
Inté memo os passarin
Sombra eis prucurava...
De noite a lua no céu
Chuva longi anunciava
Rodiada do crarão perto
Chuva ainda demorava.
O povo lavava o santo
Pra água do céu iscorrê
Punha ele imbaxo da bica
Pamodi ele intendê.
As prece e as recramação
Por muitos mêis sem chovê
Dexô o santo nervoso
Que disordi foi fazê.
Iscureceu ele o dia
O sór em lua virô
Os truvão gritava tantu
Que de medo as nuve chorô!
O prantu foi tão violento
Os crarão alumiava
Nunciava coisa feia
Tempestade disabava.
Um raio deceu lambeno
A arve mais arta que tinha
Dibaxo dela iscondeno
Um lote de vaca minha.
O istrondo foi tão arto
Que quaji nóis insurdô
O tiro foi tão certero
Que quinze vaca matô.
Lá fora caía a chuva
Dos meus zóio água iscurria
Pur num tê cumu sarvá
Os bichu que eu bem quiria.
Deus me deu a  competença
Preu tentá aliviá
A dor que os bicho senti
Se eis duenti ficá.
Mais ninguém é capaiz não
De podê aminizá
A fúria que evem do céu
E a hora dela chegá!!!

QUIRIA (ADAPTAÇÃO DO TEXTO QUISERA) do amigo Rs t



QUIRIA...                                      FOTO DA NET.
                
Quiria podê mudá o meu distino
E nacê bem dispois... quando já minino.
Quiria pirguntá pru distino:
Divia eu tão in antis de ocê tê vino???
Mais... hoje a resposta num importa
Trago na pele as marca sem cicatriz das hora morta.
Quiria  fazê parti da tua adolecença
Sê a tua primera isperiênça
O primero a te tocá...                
E vê cum aligria
Ocê, de minina em muié se transformá.
Quiria... cumo eu quiria
Da ingenuidade à malíça
Divagá, te vê passá!
Quiria no rizin que vejo agora
Inxergá o rizin de otrora
No imbalo da paxão...
Quiria nas primera letra te vê tocada
Sabeno que era já notada
No B    a     Bá   do coração!
Quiria tá com ocê de pititinho
Pras primera sensação nóis dois juntinho
Vim intão a discubrí...
O meu corpo intregá procê intero
No tempo percurá pelo teu chero
E tua realização dizê que vi.
Inxergá a certeza de hoje alinhavada
Lá longe... na história já passada!
Quiria um futuro diferente
Tê ocê sempre presente
Tê ocê junto de mim...
Te incontrá bem antis
De  que ôtro amor erranti
Chegasse memo por aqui...
Sem tê paxão passagera
Tê aquela verdadera
De quem naceu pra mim.
Coração virge... imaculado
Por mim tão isperado
Que veio pra num mais tê fim...
Pra sê o resumo de tudo
Um amor maior que o mundo
Vai nutícia um dia tê...
E o tempo se passano
Eu a ficá isperano
Se na frenti eu partí...
Páru ondi fô e ti ispéro
Juntu de mim eu ti quero
Pra eternamente siguí.
Vô inté brigá cum o distino
Que guardô quando se ino
Lá atrais, no tempo, nóis dois...
Que me feiz nacê bem antis
E ocê, só bem dispois!

ÚRTIMA BENÇÃO

  

                                                                                                    
Trabaiadô e honrado
Os doze fio criô
Na fazenda dondi eu morei
Ele tomém lá morô.
De madrugada saía
Cum imborná pindurado
Nu ombru do ladu isquerdu
Nas mão levava o machadu.
Cortava as tóra já sêca
Pru fugão da Sinhá cumeçá
Bem in antis das cinco hora
O céu de fumaça infeitá.
Adispois lá ia ele
Os tratu prus bichu ponhá
E cum custumera presteza
O leiti das vaca tirá.
Adispois ia pra vargi
Isgotá pra prantação
Trabaiava cada eito
Pra tirá da terra o pão.
Arrumava cerca caída
Cortava nas mata os muerão
Isticava arame infarpadu
Irguia a cerca du chão.
In tudu os sirviço pesado
Cunfiava nele o patrão
Num tinha o que num fazia
Num tinha cansaço não.
Ansim istudô  os doze fio
Cás força dus braçu e das mão
Trabaiano tudu dia
Sem fartá cá obrigação.
De repenti, num dia quenti
Cum muito suor derramado
Sintiu már dispois du armoçu
E caiu nu chão deitadu.
Quandu viru intão que ele
 Num mixia nem prus ladu
Socorrêru  ele  achanu
Que o seu dia era chegadu.
Foi derrami sim sinhô
Sua voiz ele robô
Foi pra cama de uma veiz
Nunca mais se alevantô.
Das coisa num se alembrava
As veiz os zóio indagava
Palavra  que num saía...
Inté dó nus ôtru dava
Purque ele só oiava
E ninguém mais cunhicia.
Ano e ano o silênço
Na sua boca feiz morada
Os zóio seco amostrava
Que um morto vivo alí tava.
Inté que um dia um arguém
Já se ino pru além
 Pertinho dele chegô
Pidino a sua bênça
Pra que ele cá sua crença
Benção lhe fosse pô.
Nessi  instanti a lucideiz
Pra juntu dele vortô
A fala sortô da boca
Oiô pra muié e falô:
Nossu fio hoje morreu
E eu quero í lhe vê
Arruma arguém pra levá
Pra cidade eu e ocê!
Nosso fio morreu não
Ocê devi tê sonhadu
Nosso fio tá trabaiano
Cê fica aí sussegado.
Ele morreu, sim sinhora
Tava aqui inda agora
 Só veio pra mi avisá
Que cum Jesuis foi imbora
E pra quí num vai vortá.
Arrumáro intão um carru
Pru transporti ansim fazê
Levá o casar de pai
Pru fio morto í vê.
Diante do caxão o pai
Pru isquicimentu vortô
Oiô o fio deitado
E foi ansim que falô:
Quem será esse que dormi
No meio de tanta frô
Purque será que tem frô
No lugá du cubertô?
A úrtima frase foi esta
Que o homi pronunciô
Vortô pru silenço da fala
E de nada mais se alembrô.
Cuntinuô sem intendê
Sem falá e sem mexê
Inté o seu dia chegá.
Se foi berano  cem ano
Pôcos fio vivo dexano
Côs otros foi se juntá!