terça-feira, 18 de junho de 2013

ÚRTIMA BENÇÃO

  

                                                                                                    
Trabaiadô e honrado
Os doze fio criô
Na fazenda dondi eu morei
Ele tomém lá morô.
De madrugada saía
Cum imborná pindurado
Nu ombru do ladu isquerdu
Nas mão levava o machadu.
Cortava as tóra já sêca
Pru fugão da Sinhá cumeçá
Bem in antis das cinco hora
O céu de fumaça infeitá.
Adispois lá ia ele
Os tratu prus bichu ponhá
E cum custumera presteza
O leiti das vaca tirá.
Adispois ia pra vargi
Isgotá pra prantação
Trabaiava cada eito
Pra tirá da terra o pão.
Arrumava cerca caída
Cortava nas mata os muerão
Isticava arame infarpadu
Irguia a cerca du chão.
In tudu os sirviço pesado
Cunfiava nele o patrão
Num tinha o que num fazia
Num tinha cansaço não.
Ansim istudô  os doze fio
Cás força dus braçu e das mão
Trabaiano tudu dia
Sem fartá cá obrigação.
De repenti, num dia quenti
Cum muito suor derramado
Sintiu már dispois du armoçu
E caiu nu chão deitadu.
Quandu viru intão que ele
 Num mixia nem prus ladu
Socorrêru  ele  achanu
Que o seu dia era chegadu.
Foi derrami sim sinhô
Sua voiz ele robô
Foi pra cama de uma veiz
Nunca mais se alevantô.
Das coisa num se alembrava
As veiz os zóio indagava
Palavra  que num saía...
Inté dó nus ôtru dava
Purque ele só oiava
E ninguém mais cunhicia.
Ano e ano o silênço
Na sua boca feiz morada
Os zóio seco amostrava
Que um morto vivo alí tava.
Inté que um dia um arguém
Já se ino pru além
 Pertinho dele chegô
Pidino a sua bênça
Pra que ele cá sua crença
Benção lhe fosse pô.
Nessi  instanti a lucideiz
Pra juntu dele vortô
A fala sortô da boca
Oiô pra muié e falô:
Nossu fio hoje morreu
E eu quero í lhe vê
Arruma arguém pra levá
Pra cidade eu e ocê!
Nosso fio morreu não
Ocê devi tê sonhadu
Nosso fio tá trabaiano
Cê fica aí sussegado.
Ele morreu, sim sinhora
Tava aqui inda agora
 Só veio pra mi avisá
Que cum Jesuis foi imbora
E pra quí num vai vortá.
Arrumáro intão um carru
Pru transporti ansim fazê
Levá o casar de pai
Pru fio morto í vê.
Diante do caxão o pai
Pru isquicimentu vortô
Oiô o fio deitado
E foi ansim que falô:
Quem será esse que dormi
No meio de tanta frô
Purque será que tem frô
No lugá du cubertô?
A úrtima frase foi esta
Que o homi pronunciô
Vortô pru silenço da fala
E de nada mais se alembrô.
Cuntinuô sem intendê
Sem falá e sem mexê
Inté o seu dia chegá.
Se foi berano  cem ano
Pôcos fio vivo dexano
Côs otros foi se juntá!





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