terça-feira, 27 de maio de 2014

EU QUERO É VORTÁ PRA ROÇA...

                                       
                                                     TELA  DE EDGAR WALTER.

Na roça eu bebo cachaça
O leiti eu tenhu de graça
Parmitu tá no coquero.
Aqui eu num achu graça
O tempu pra mim num passa
 Num incontru bão violero.
Eu queru é vortá pra roça
Eu queru a minha carroça
O meu cavalu em pelo.
Queru o cheru da fumaça
As minha arma de caça
O fugão lá nu terrero.
Queru a butina rasgada
A camisa a traça furada
Meu chapéu de boiadero.
Queru os calo nas minha mão
Aligria nu coração
Tarefa o dia intero.
Queru a inxada e o machado
Prus canteru e os pau cortado
Eu podê diministrá.
Queru o meu cochão de paia
A minha véia navaia
E a mema muié preu amá!  

Alcione.


5 comentários:

  1. Eu queru é vortá pra roça!

    E dou comigo a tentar adivinhar como seria a vida de um trabalhador na roça! O que ele de facto valoriza para querer vortá!

    Na roça bebe cachaça, o leite é de graça! Violero bão não encontrou! A carroça, cavalo em pelo, o cheiro da fumaça e sua arma de caça, os calo nas mão, a enxada e o machado e para abreviar, "E a mema mulé preu amá!"

    Aquilo que hoje se considera um bem indispensável, mais não é do que necessidades criadas para, a curto prazo, se acumularem fortunas imensas! Não é para aplaudir o passado, nem fazer revivalismo, mas ainda no século passado em Portugal as grandes empresas tinham ainda o nome do seu fundador, que muitas vezes vinha de várias gerações! Para o boieiro já não era nenhum dos bens naturais, o Sol, a Agua, o Ar, era a cachaça, e várias outras coisas que não são essenciais!

    Mas falar do poema não implica descambar para fora do que se pretende,mas isto está tão embrenhado na massa do sangue que quase não consigo evitar!

    Uma noite sem cachaça e uma semana com poesia!

    Abraços!

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  2. Olá Alcione, um belo poema, e escrito de uma forma divertida. Parabéns.
    Ah, a pintura que abre sua postagem é de Edgar Walter.
    Fraterno abraço.

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    1. Bom dia, amigo...Grata pela visita e comentário deixado. Um forte e carinhoso abraço!

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  3. Lindo poema. Só não sei é se tem alguém, acostumado à internet, celular, guitarra eletrônica e muito mais, que queira voltar para a roça.
    Abração.

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    1. Com certeza não, meu amigo! As pessoas estão é fugindo da roça....rsrsrsrsrr. Voltar pra roça, somente o "eu" do poema quer! Forte abraço!

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